"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim." (Chico Xavier)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

'- Resumo.



Muitos versos tristes
Muitos versos pequenos
Muitos versos perdidos
Muitas palavras sem sentido
Muitas outras sem explicação
Muitas poucas sem solução
Sem sentido
Sem você
Sem saber
Buscaria algo
Buscaria tudo
Buscaria você
Sonhos tristes
Sonhos tolos
Sonhos meus
Talvez agora
Talvez nunca
Talvez amanhã
Agora, não sei
Agora, chorei
Agora, te esquecerei

Paulo Laet

quarta-feira, 29 de julho de 2009

'- Destino...

Ali naquele pedaço de papel, todos os seus sonhos de vida, todas as suas conquistas, seu amor, tudo havia se tornado vento. Já haviam se passado 45 dias e ele ainda não havia se acostumado.

Acordava todos os dias às 7 horas pontualmente.

Despertava com o relógio do celular e abria os olhos com o mesmo pensamento: Hoje será um dia cheio. Tomava seu banho em silêncio, não gostaria de ser incomodado, eram seus 15 minutos sagrados de tantos anos.

Saía lentamente e completamente nú sentava na cama de cabeça abaixa, deixava seus cabelos pingarem no tapete que fazia a decoração daquele único espaço no imenso quarto.

Depois de vestido descia as escadas...já atrasado, arrumando a gravata e com as chaves do carro na mão,não tomaria mais café.

Durante 40 minutos enfrentava o congestionamento da imensa Metrópole que o rodeava. Mais algum tempo que não poderia ser desperdiçado. Á algum tempo havia ouvido uma música que o despertava algo que ele não sabia explicar, mais adorava, desde então a ouvia todos os dias, repetidas e repetidas vezes, sem se cansar.

Chegava ao escritório, sentava em sua cadeira de Vice-Presidente, olhava os papéis em cima da mesa e não se movia.

45 Dias. 45 dias em que ele se sentava e em segundos se levantava novamente e olhava a janela: naquela vista apenas prédios, nenhum sinal de não urbanização, o que o sufocava cada dia mais, mas nesse dia ele decidiu fazer algo de diferente, tomou a iniciativa que nunca havia tomado anteriormente.

Saiu da sala com suas chaves barulhentas, passou pela secretária que falou algumas palavras sem que ele nem sequer tenha notado, e saiu pela porta de vidro. Desceu o elevador apenas olhando os números decrescentes, com muita atenção: 25 andares. Já sabia aonde iria.

As 10 da manhã, ainda escutando a mesma música, ele estava na estrada, indo para algum lugar que ele ainda não sabia. Já estava sem gravata, camiseta já para o lado de fora da calça e dirigindo descalço: se sentia bem assim.

Enquanto dirigia a 95 Km/h, com o Sol banhando seu rosto, ele tinha na mente uma voz delicada, uma voz de alguém que ele não esqueceria jamais. Neste momento uma lágrima caiu de seus olhos, olhou para o retrovisor e se viu a derramar muitas lágrimas mais.

Alguns minutos depois ele havia chegado ao seu destino: lugar nenhum. Saiu do carro, tirou a camisa e foi em direção ao nada. O que ele via era apenas o sol ainda em seu rosto, deixando bem claras suas expressões fatídicas de alguém que já havia sofrido muito, porém não tinha se dado conta.

Ajoelhou-se e rezou. Pediu a Deus, ao qual ele sempre disse que não levava muita fé, para abençoá-lo e salvá-lo de todos os seus pecados.

No bolso da calça ainda existia o papel com as letras de sua amada..."EU TE AMO" era o que dizia.

Ainda se lembrava de quando encontrara o papel nas mãos dela no chão da sala as 14horas e 43 minutos a 45 dias atrás.

Alguns minutos se passaram e ele ainda estava ali, deitado ao chão de uma praia que ele nunca havia visitado; a mesma que era o sonho de alguém especial para ele. A água e a maré lentamente subiam até seus pés quentes, porém imóveis. O papel não mais estava em suas mãos, e sim ao vento, como se outro alguém o estivesse segurando. Aos poucos o vento que o levava foi tomando outras proporções e o levaram até auto-mar, aonde não pode mais ser visto, sentido, onde ele não mais existiria.

sábado, 25 de julho de 2009

'- Save You...

Eu posso dizer,eu posso dizer o quanto você odeia isso...
E bem lá dentro você sabe que está me matando!
Eu posso ligar, desejar você bem e tentar mudar isso...
Mas nada do que eu diga mudará algo...

Onde estavam meus sentidos?Eu deixei todos pra trás...
Porque eu me virei, virei?

Eu queria poder salvá-lo...
Eu queria poder dizer pra você que eu não vou a lugar algum...
Eu queria poder dizer pra você : tudo vai ficar bem...
Tudo vai ficar bem!

Não quis,não quis deixá-lo as margens...
Fui embora porque não quis encarar a verdade...
Alcançando,alcançando-me: mãos vazias
Você não sabe se eu me importo,você está tentando achar a prova...

Há horas em que penso: Teria eu diminuído sua dor?
Porque eu me virei, virei?
Nós podemos finjir que nada mudou, finjir que tudo é o mesmo...
E que não terá nenhuma dor essa noite,tudo vai ficar bem!

Tudo vai ficar bem e eu não vou a lugar algum
Eu queria poder dizer a você...Tudo vai ficar bem!

Kelly Clarckson - Save You

segunda-feira, 20 de julho de 2009

'- Escritas...




Escrevo cor,luz,versos...
Escredo vidas,histórias,dor...

Escrevo vento,passos,sol...

Escrevo eu,você,amor...


Escrevo filmes, músicas,lágrimas...

Escrevo palavras,corpos,tons...

Escrevo idas,vindas,voltas...

Escrevo eu,você,amor...


Escrevo horizontes,pontes,caminhos...

Escrevo morte,pensamentos,sentimentos...

Escrevo sonhos,lugares,desejos...

Escrevo eu,você,amor...


Escrevo o que não deve ser pronunciado...

Escrevo o que não deve ser visto...

Escrevo o que não deve ser negado...

Escrevo a você,sempre,o meu amor.

'- A Carta...



Olá,tudo bem?Espero que sim...essa noite,como em tantas outras,eu não consegui dormir direito...tive um sonho com você.Não que você deva ou queira saber,essa não é a minha intenção,mais eu só quero falar,se é que você me permite.
No sonho eu te via sentada,olhando a chuva da janela do seu quarto.Mesmo sabendo que eu estava ali você não olhava pra trás,e muito menos me via,você só sentia minha presença.Enquanto a chuva caía lah fora você derramava muitas lágrimas,sem nem mesmo saber o porquê.
Sim, havia algo errado,e mesmo com toda a vontade que eu tinha de saber o que era eu nem mesmo consegui adivinhar,então,saí pela porta e fui pra casa.Chegando lah,começei a escrever e escrever compulsivamente.Escrevia cartas,poemas e frases que iam saindo de minha mente e se concentrando em um pedaço de papel rasgado de um caderno qualquer.Em cada palavra escrita eu colocava cada vez mais sentimentos meus,coisas que eu sentia ou que já senti algum dia,angústias,momentos...transformei pessoas e gestos em palavras de qualquer vocabulário.
O tempo foi passando e eu ainda pensando.No outro dia acordo bem cedo com a campainha tocando.Levantei rápido,troquei o pijama,desci as escadas com o rosto inchado,o rádio apresentava 10 horas da manhã e a campainha ainda fazia um barulho estridente.Atravessei o resto da casa até chegar o portão.
Eu te olhava assustada,afinal,você nunca tinha feito aquilo antes,aparecer sem avisar.O pior de tudo é que você parecia aflita.
Assim que atravessou o portão me deu um abraço tão forte que eu não pude nem me segurar,perdi o equilibrio durante segundos mas depois voltei ao normal.
Te convidei pra entrar mais você não quis.Estranhei a rua deserta e ficamos ali,sentadas na calçada,encostadas na parede,como se estivessemos esperando alguém passar.
Celular desligado,mp3 na mão,aquela calça de sempre e uma blusa azul,eu nem acreditava que era você realmente.A tanto tempo que eu não te via nem ouvia a sua voz,eu sentia tanta falta daquilo que eu nem fazia nada,só deixava o tempo passar lento...deixava o sol mostrar os seus traços e eu,como sempre,olhava para o nada com o coração desparado,assim como agora escrevendo essa carta.
Nós estavamos ali,lado a lado,você olhando pro chão fazendo com que seus longos cabelos combrissem seu rosto, e eu tentando imaginar os seus pensamentos.Talvez você tivesse se arrependido de ter ido me ver,talvez quizesse voltar pra sua casa ou sei lá.Não quis pensar nisso na hora.
Em dois movimentos você me olhou e esboçou um sorriso,aquele que eu sempre via constantemente, e pegou na minha mão que estava no chão.Ao sentir o calor da sua mão eu me arrepiei,senti o mesmo calor tomando conta de cada parte do meu corpo: mãos,braços,costas,pernas...a única parte que não foi consumida foi o meu peito,que ficou gélido durante todos aqueles segundos.
Ficamos ali naquele mesmo lugar durante horas,não nos movemos nenhum centímetro se quer.Em outro movimento você enconstou sua cabeça no meu ombro e ficou lá alguns minutos.Eu ainda consumida por aquele calor de antes te abraçei e ficamos mais algum tempo ali,sem dizer nada.Eu sabia que você precisava daquilo,de alguma forma você passava por alguma coisa que não era de prache,estava preocupada ou qualquer coisa assim.
Mais um movimento.Você esboçou outro sorriso e veio pra bem perto de mim,fechou os olhos e me deu um beijo demorado no rosto.Como eu senti saudades daqueles lábios..únicos e pra sempre memoráveis.Meu coração tornou a desparar como se fosse parar em algum momento,meu peito gelado anunciava que eu estava sem graça e amando aquilo...
De repente tudo foi ficando escuro e o ambiente foi ficando mais quente a cada segundo,mas você não saiu do meu lado.Continuei no seu abraço sentindo o seu corpo,fechei meus olhos,minhas mãos tocavam seus braços quentes e eu nunca imaginaria que aquilo aconteceria novamente...uma lágrima era despejada do meu rosto...abri os olhos e nada daquilo existia mais.
O que eu via agora era apenas a parede do meu quarto escuro.No quarto,flores em quadros,ursos,objetos pessoais e um guarda roupa faziam enfeite a tudo o que eu tinha.Eu me via olhando aquela parede fria e azul de cor do céu.Me via tbm abraçada ao meu objeto preferido como nunca havia feito antes,em nenhuma outra noite.
Eu também sentia a presença de alguém,alias,a falta de alguém.Olhava fixamente a parede como se algo fosse um enigma,com se algo fosse surgir da mesma e me abraçar, me deixar sem o fôlego que eu já não possuía.Mais isso não aconteceria...mesmo que quisesse muito que aquele momento se tornasse realmente verdade em algum dos outros dias que eu ainda iria viver.

domingo, 19 de julho de 2009

'- Breve descontrole...


Falo alto,me descontrolo,sou mais forte...
Crio coragem,corro riscos,desabafo...
Sento,choro,depois volto a sorrir...
Não tenho fome,não me canso,eu surto.

Deito,rolo,me ponho a voar...
Atravesso em alta velocidade,paro,ou volto a caminhar...
Embaralho,desperdiço,aproveito...
Não tenho medos,faço dos meus desejos realidade.

Me entrego aos prazeres mais ocultos,anceios...
Me vingo,me aceito,me faço feliz...
Sigo,imploro,ajoelho...
Não ouço nada além do que me convém.

Com o coração desparado,apertado,eu vou em frente...
Sem temer o dia de amanhã,nem lembrar o anterior...
Garganta molhada, olhos secos,assim que deve ser...
Os dias passam,as noites correm,e eu aqui,a sua mercê.

sábado, 18 de julho de 2009

'- Pensamentos



As pessoas se tornam diferentes, únicas, belas e incondicionalmente incríveis, dependendo dos olhos de quem as vê. E eu me vejo tão diferente, tão mudada, inconstante...eu percebo.
Estou cansada, porém estou livre. Sinto saudades, sinto desejo. Desejo de tudo o que eu não posso ter, e o que eu posso ter já não é o bastante, como para todo o mundo.
Quero voar com os pés no chão, quero engatinhar com asas, quero ter a sede de todo o ser humano e a fome de uma criança.
Quero amadurecer os pensamentos, as ilusões, os sentimentos, os desejos, amadurecer meus sentidos.
Talvez todas estas palavras sejam deveras desnecessárias e os pensamentos, perfeitos demais. Os sonhos já não são os mesmos, as pegadas já são muito profundas e o rastro é constante.
As opções mudam e de repente eu me torno o Sol, quente e vulgar, numa tarde fria de inverno.
Hoje eu só quero algo que me faça esquecer o que eu me tornei, do que eu pensei, do que eu senti e sempre sentirei, do que eu soube, sei e sempre saberei... que isso tudo irá durar para todo o sempre dentro da minha breve existência!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

'- Sem nome...

Depois de mais um tempo com problemas eletrônicos no meu computador ¬¬’ eu volto pra escrever mais um pouquinho *-*,dessa vez vai ser algo bem básico =]

Espero que apreciem.

Beeijos!


Eu me olhava e não acreditava. Com os olhos vidrados no nada eu sentia o tremor vindo de dentro pra fora.

Os movimentos eram tão reais que pareciam que poderiam ser estancados com apenas um gesto: mas não!

A cada movimento eu soava mais, ficava cada vez mais congelada. Nos primeiros momentos aquilo não me afetava tanto, mas com o passar dos segundos o mundo ao meu redor e ao redor daquilo tudo iam perdendo som, cor, luz e movimentos.

Então olhei pra trás e senti. Senti um calafrio, um toque, um peso e uma lágrima dispersa me socorreram: Você estava ali.

Em meio aquela escuridão que me rodeava eu via o brilho dos teus olhos, seu corpo banhado em um manto explendorosamente branco. Mesmo com aquele breu e as janelas trancadas, um vento forte banhou o recinto e a poeira fez-me fechar os olhos. Abri depois de alguns segundos e você não estava mais lá; havia desaparecido... Porém, eu ainda sentia sua presença.

De repente dois membros percorriam a parte de cima do meu corpo e havia outro peso sobre o meu ombro direito: era você novamente. Mesmo não te vendo fui obrigada a fechar os olhos e sei claramente o seu perfume... Aquele perfume assombroso que sempre me tirava o ar, o mesmo que eu jamais esquecerei.

Uma ância me confundia e ainda banhada pelo perfume que ouvi um sussurro: "Eu estarei aqui, sempre estarei. Eu sempre serei, sempre, sempre serei... sempre."

Com a força de elefantes, meu corpo foi arrastado para traz na cama, que agora era tão quente que eu mal conseguia me recostar. O mesmo peso que recaía sobre meus ombros,agora estava despejado sobre meu corpo inteiro.Sem movimentos eu era apenas uma estátua,um manto vivo sobre a cama quente, e sobre mim agora eu via com os olhos abertos uma luz que me cegava e grandes fios sobre o branco que a cobria.

Agora era real. Apesar da dor que eu sentia com o peso eu não me importava mais...queria sentir aquela explosão pelo meu interior como eu nunca havia sentido antes.Não havia nenhum som e eu sentia algo se mover.Sentia algo forte,seus batimentos que feriam minha pele.

De repente, o sussurro não mais se anunciava. O que sobrava agora era só a sua respiração que me afogava e eu queria mais,mais do que já tinha ou poderia ter.Muito mais de você.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

.Reencontro. Final.


Então, algum tempo depois ela conseguiu abrir seus olhos. Estava em um lugar escuro, que ela bem conhecia. Os enfeites que rodeavam a sala eram os de sempre: fotos de amigos, de seus pais, até do estimação que ela tinha a seis anos.

As janelas da cozinha rangiam enfeitando a casa vazia com o barulho que ela ouvira durante aquele final de sono. Do lado de fora se podia ouvir o som da mais forte tempestade durante aquele final de tarde congelante. No resto da casa não havia mais nada, o animal se colocava quieto abaixo da cama do quarto e as gotas se derretiam na janela atrás das cortinas acobreadas. Ela então sentiu suas pernas balançarem de acordo com os sons dos trovões do lado de fora da e um frio tomou conta de toda sua espinha ereta. Durante alguns minutos ela ficou ali, parada, sentada na cama do quarto e se olhando ao espelho. Imaginava todas as cenas que havia passado pela sua cabeça naquele sonho maluco, tão maluco quanto outros que ela tivera em outros sonos assim como aquele. O relógio apontava 19h: 30mn e ela estava paralisada pelo efeito daquele que era o seu desejo maior, tê-lo perto dela pelo menos por mais uma vez. Enquanto pensava nisso, ela se via entregue ao mesmo sentimento que o consumia em seus ocultos pensamentos, uma vontade absoluta e descontrolável de molhar o rosto afoito e já inchado do recente despertar. Instantes depois o animal saiu de sua quietude e se colocou a grunhar diante dos corredores da casa, até chegar diante da porta. Ela assustada então, desceu as escadas lentamente, nem sequer se pôs a acender as luzes, queria que a escuridão lhe fizesse companhia naquele momento.

Em movimentos retos e singulares de seus quadris, ela cruzava a sala lentamente até chegar à porta feita da mesma madeira morta que seu sonho revelava. Enquanto dirigia sua mão direita até a fechadura, outro frio na espinha lhe consumia enquanto os trovões ainda se anunciavam do lado de fora como nunca havia ocorrido anteriormente. Com os pés descalços em cima do tapete azul-celeste e vestida com a camisa de seu time favorito, ela virava a fechadura tão lentamente que parecia que esperava alguma surpresa por detrás daquele portal. Fechou os olhos e em uma só jogada abriu a porta revelando o grande vazio diante dela que era desfeito pelas escadas do prédio, depois de pouco menos de um metro de distância.

Não havia nada. Apenas a chuva corria pelos corredores. De passos em passos então ela começou a se aventurar por aqueles corredores, procurando algo que ela sabia que estava lá, escondido em algum lugar. Parecia que seguia rastros de algum fantasma que estava a rondando por ali, mas não havia nada. Resolveu então voltar para casa e se refugiar novamente em seu casulo.

Diante da escuridão dos corredores ela ia, com passos pequenos, completamente desolada por achar que ele ainda estava ali. Andava de cabeça abaixa olhando seus próprios pés se molharem e seus cabelos pingarem com a água que lhe cobria o corpo, até que chegou ao corredor 3D, onde ao final do mesmo, se encontrava sua caverna pessoal. Fechou seus olhos e continuou seguindo de cabeça abaixa.

Em frente à porta o animal ainda se encontrava ali, mas desta vez mais manso, sentado e confortado. Sem se importar com sua pele encharcada, ela adentrou a casa e se dirigiu diretamente até seu quarto onde poderia ficar em paz, a mesma paz que desejava ter a tanto tempo e que não conseguia alcançar.

Sua mente estava tão vazia que nem percebera que sua casa havia sido invadida. Não percebera as marcas nas fotos, as pegadas que enfeitavam o tapete da sala e muito menos as que cobriam o chão das escadas e dos corredores internos com a mesma água que a cobria. Enquanto passeava pelo corredor até a porta do quarto, também não percebera que nas paredes haviam marcas de dedos e que a luz do quarto estava acesa.

Já em prantos, ao chegar à porta do quarto percebeu que algo havia de errado, sim, ela sabia. Mesmo com toda a água que o cobria podia sentir o perfume de seu amado a metros de distância, e ele estava ali. Sim estava.

Em três mínimos passos adentrou o quarto e lá estava a companhia que ela sempre esperava durante esses 11 meses. Com seus cabelos ensopados, uma camisa preta estampada, calças jeans como ele sempre usava, e um tênis que nunca seria da moda ele estava ali, com seu corpo e olhos respingando esperando o que ela sempre temeu fazer. Em segundos correu de encontro ao corpo que o frio da chuva havia transformado em gelo e aos poucos o calor de seus corações que batiam em ritmo acelerado foi esquentando seus corpos.

O relógio marcava já 20h00, e o animal estava ali, apenas observando a cena no canto esquerdo da porta. A janela não mais declarava os clarões dos trovões e muito menos despejava as lágrimas da chuva diante do vidro. Tudo estava quieto. A luz ainda acesa do quarto dava o enfeite e resplandecia a imagem do encontro dos dois naquele espelho grande e ralo. Seus seios iam de encontro ao tórax dele e seus braços em volta de suas costas e vice versa. Os corações ainda batiam e os corpos e cabelos ainda pingavam formando uma poça de chuva parada envolta dos dois corpos grudados. 20h 32m. Aquela noite seria longa, mais longa do que qualquer dia que passasse pelas vidas daquelas duas pessoas. Elas enfim seriam entregues ao seus mútuos e vantajosos desejos. Sem precisar hesitar, nem falar. Eles apenas viveriam.